data-filename="retriever" style="width: 100%;">Mensalmente, recebo e-mail com relatório do Google Maps detalhando todas minhas idas e vindas no decorrer do mês antecedente. Recebo porque ativei o Histórico de localização, uma configuração no nível da conta do Google que salva os lugares por onde andei na minha linha do tempo particular. Mas nada me garante que, se não tivesse ativado, eu não estaria igualmente monitorado.
No relatório sobre o mês agosto, soube que percorri a pé 8 quilômetros, em caminhadas que somadas consumiram 2 horas. De automóvel andei um total de 48 horas e percorri 1.040 quilômetros, e estive em três cidades, Porto Alegre, Santa Maria e Itaara, e compareci em 66 lugares.
Mais, no decorrer deste ano atípico de 2021, percorri no total 10.073 quilômetros, que corresponde a 25% de uma volta ao mundo. Há outras várias informações, que mostram que estou sob absoluta vigilância.
O fato de eu ter ativado o histórico, simplesmente, me dá maior consciência de que estamos todos movidos, como marionetes, por fios invisíveis comandados por algoritmos.
Cada passo, cada lugar visitado, seja um lugar físico ou um sítio da internet, está sendo observado ciberneticamente para traçar nosso perfil e, a partir disto, nos direcionar, inconscientemente, através de publicações nas redes sociais. Cada vez mais a propaganda é sutil e personalizada, ao ponto de que se possa duvidar se aquilo que escolhemos é uma decisão pessoal ou uma indução externa que faz desejar o que escolher.
Nesta esteira, a percepção de mundo deixa de ser uma visão coletiva para se tornar cada vez mais individual e manipulada. A filosofia perde para os conceitos rasos, admitidos como dogmas; o conhecimento histórico como um todo deixa de existir e cada um cria sua própria versão do passado.
A globalização, no seu início, parecia que nos levaria a um estágio liberal, onde todos poderiam ir e vir a qualquer lugar do mundo e fazer negócios sem barreiras, de modo a catapultar o desenvolvimento. Mas o que se constata é que deu lugar à possibilidade de um punhado de homens deter todas as informações circulantes, traçar estratégias de dominação política e econômica, sem necessidade da força bruta da guerra. Basta a este punhado de pessoas mover os cordéis e conduzir a massa de acordo com suas conveniências, inculcando em cada um em particular ideias que serão adotadas como próprias.
Não é por outra razão que falar em ciência, estudo de história e filosofia, ou mesmo incentivar o acesso à literatura são apontados como pecados mortais pelos dominadores de corações e mentes. A massa é mantida dentro da bolha, acreditando e propagando dogmas. Pensar tornou-se perigoso, pode furar a bolha.
Sem alternativas, entregamos nossa privacidade a nossos dominadores. Por enquanto, podem nos manipular, mas se tivermos consciência disto e não abrirmos mão do livre pensar podemos reduzir os efeitos da manipulação. Pensar pode furar a bolha e não custa nada e é libertador.